O que a comunicação é para as relações, o ar que respiramos é para a nossa sobrevivência.
A comunicação é uma das coisas mais importantes para as relações, senão a mais importante e para todos os tipos delas, visto que não existe relação satisfatória sem encontrarmos a melhor maneira de nos comunicarmos. A comunicação é o ponto de contato onde conheço o outro e tenho possibilidade de me conectar com o seu mundo.
Antes de começarmos a entender os princípios básicos de uma boa comunicação e quais são os estilos de comunicação que existem, precisamos abordar antes de coisas que parecem básicas, mas que muitas vezes não são. Desta forma, quando se trata de comunicação, quero ressaltar que nunca podemos partir do princípio que todas as pessoas deveriam saber o que faz parte do senso comum, e por isso tem coisas que não precisam ser faladas. Isto é um mito, visto que muitas vezes o que é óbvio para você, está bem longe de ser óbvio para outra pessoa.
Portanto, primeiro ponto: não pensem que vocês sabem o que o outro está pensando ou o porque tal pessoa fez o que fez, antes de perguntar para ela(e). Precisamos sempre usar aqui o recurso do EU NÃO SEI, para quem é meu paciente já deve ter ouvido isso em terapia. Esse recurso é utilizado sempre que começamos a fazer julgamentos sobre o que a gente acha que está acontecendo com a outra pessoa. Não. A não ser que você pergunte, você não sabe.
Já ouvi pacientes falando: mas por favor né ma, isso eu não preciso comunicar, pois é tão óbvio! Meus amores, nunca partam do óbvio. As pessoas são tão diferentes que poderia dizer que cada um é um universo particular, ou em alguns casos, cada um é uma galáxia própria. A gente nunca sabe o que o outro de fato está pensando, o que se passa por debaixo da pele de cada um, quais são os seus traumas, suas crenças, regras básicas e por aí vai. Ou seja, só vamos acessar esse mundo tão distinto do outro através da comunicação.
Em casais, por exemplo, precisamos diversas vezes comunicar as nossas necessidades e o que estamos sentindo e não esperar que o outro adivinhe o que desejamos e quais são as nossas necessidades. Já ouvi muito no consultório, mulheres se queixando que gostariam que o parceiro fizesse isso ou aquilo para elas e quando eu fazia uma pergunta básica como: “mas você comunicou que isso era importante para você?” Elas dizem que não. Pois então...
Outro ponto fundamental é que todo comportamento é uma comunicação. Isso significa que qualquer ação ou não ação de uma pessoa tem significado para os outros. O próprio ato de ficar em silêncio que teoricamente poderia ser interpretado como uma não comunicação adquire um significado para a pessoa que interage com a pessoa que permanece em silêncio. Da mesma forma, todos os aspectos não verbais — a linguagem corporal, a imagem que mostramos, as qualidades da voz, o ritmo, etc. — serão interpretados pela pessoa com quem você está interagindo, determinando 90% da comunicação.
Agora vamos começar a discorrer sobre os estilos de comunicação que existem na literatura. Atualmente estão descritos quatro estilos de comunicação: o passivo, o agressivo, o passivo-agressivo e o assertivo. O objetivo aqui é compreendermos nosso estilo mais usual de comunicação, pois todos nós temos alguma tendência para algum deles, para que assim possamos estar mais atentos às nossas respostas automáticas de comunicação e, desta forma, desenvolvermos uma resposta mais consciente e mais assertiva. Além disso, cada estilo de comunicação está ligado com a estrutura de personalidade, com as crenças de cada um e com tudo que aprendeu ao longo de sua história de vida.
Comunicação passiva
Aqueles que possuem a comunicação passiva como característica principal possuem dificuldades de expressar suas necessidades e se impor. Esses indivíduos costumam evitar ao máximo o conflito e por vezes podem acabar aceitando coisas e situações que não gostariam simplesmente pelo medo do confronto. Uma comunicação mais passiva normalmente pode estar vinculada com uma personalidade mais dependente, que é quando o sujeito apresenta dificuldade de se colocar, de se valorizar, de se respeitar e de impor seus limites sempre em prol do outro.
Comunicação agressiva
Aqueles que possuem a comunicação agressiva como característica principal, costumam se apresentar de maneira contrária aos passivos. Ou seja, eles expressam suas opiniões de forma simples e direta, e quando sentem que precisam, defendem suas ideias com todas as forças sem estar muito preocupados se vão machucar alguém. Uma pessoa que apresenta um estilo de comunicação mais agressivo pode ser uma pessoa que apresenta uma tendência a estar na defensiva, ter crenças de desconfiança profundas e, claro, aprendeu esta forma de se comunicar na medida que pode ter tido pais ou pessoas de autoridade que faziam o mesmo consigo.
Comunicação Passivo-Agressivo
Pelo nome, você já deve imaginar que este estilo combina as características dos dois estilos citados anteriormente. Mas é mais do que isso, o passivo-agressivo encontra formas indiretas de expressar seu descontentamento. Para além de ideias e sugestões, esse estilo costuma evitar resolver conflitos diretamente e costuma descarregar seus problemas em pessoas que não estão envolvidas. Eles podem ser reconhecidos pela indiferença que expressam, pelo tom de voz muitas vezes sarcástico, pela escolha de expressão não verbal de seus problemas (como longos suspiros e hábitos que incomodam a equipe) e pelas contradições entre falas e ações.
Comunicação assertiva
Já as pessoas que apresentam uma comunicação mais assertiva, costumam ser pessoas que expressam com honestidade e respeito, primeiramente a si, e depois ao outro, as suas necessidades e desejos. A assertividade é a capacidade que as pessoas têm de se comunicar com liberdade e clareza sobre o que pensam, levando em consideração os outros e respeitando seus sentimentos. A chave da assertividade é o respeito por si mesmo e pelos outros, a autoconfiança e a consistência para expressar nossos desejos de forma amável e direta, sem ofender ninguém. Uma pessoa que tem a comunicação assertiva não deixa de verbalizar o que sente que precisa expressar, não guarda para nada para si, contudo sabe a hora de dizer, com qual tom de voz e de que maneira vai expressar e comunicar o que precisa.
Para desenvolvermos a habilidade da comunicação assertiva, precisamos estar em contato com a gente mesmo, pois a premissa básica da comunicação assertiva se chama honestidade com o que estamos sentindo e pensando. As vezes chegam pessoas no consultório que não conseguem ter uma comunicação assertiva com as pessoas que mais amam, pois elas estão tão no automático de suas vidas que elas mesmas não conseguem reconhecer suas necessidades não atendidas e, desta forma, não conseguem ser honestas consigo mesmos(as) para compreender o que precisa ser expressado. É muito comum nesses casos uma sensação de angústia de algo não dito, que não sabemos nem por que, e isto acontece por estarmos vivendo uma vida no automático e desconectados de nós mesmos. Desta forma, precisamos praticar a todo tempo atenção plena ao que estamos sentindo e depois sermos honestos(as) sobre o que reconhecemos e, assim, praticarmos o respeito a si mesmos e expressarmos o que precisa ser expressado.
Para desenvolver uma comunicação mais assertiva, precisamos também praticar a escuta ativa e o interesse genuíno quando alguém está comunicando algo para nós. Quando praticamos a escuta ativa, estamos comunicando para o outro que estamos ali para ele e que importa para nós escutarmos aquela pessoa. Além disso, a escuta ativa envolve não interromper o outro, aprender a hora de falar e fazer o exercício de se colocar por alguns instantes na pele do outro e perceber a intenção positiva por de trás do comportamento de cada um, mesmo que o outro esteja falando algo que não gostamos ou que nos machucou em algum momento, fazer o exercício da empatia envolve nos conectarmos com as reais intenções que o outro tinha quando fez o que fez.
Tem algo que gosto muito de refletir que é: mesmo quando alguém erra, erra tentando acertar. Somos todos em algum nível crianças feridas no corpo de adultos e quando erramos ou quando alguém erra com a gente, precisamos observar que existia algum valor ali naquele comportamento querendo ser honrado. Por exemplo, quando uma amiga é grosseira com outra amiga dizendo que ela não deveria estar fazendo certo comportamento no seu relacionamento. Essa amiga pode não ter escolhido as melhores palavras no momento, mas o valor que ela estava honrado ali e a intenção positiva da amiga era: proteção e segurança a sua amiga.
Outro ponto fundamental para desenvolvermos uma boa comunicação é durante a conversa pedirmos feedback se o que estamos comunicando está sendo compreendido pelo outro. Por exemplo, uma mulher que está fazendo uma comunicação difícil ao seu parceiro, ao longo da sua fala, enquanto ele escuta, ela para por alguns instantes e pergunta: Você está entendendo o que eu estou querendo te dizer? Isto faz sentido para você? Isso é muito importante, pois precisamos lembrar do princípio que as pessoas são muito diferentes, galáxias diferentes e têm formas totalmente distintas de interpretar o mundo, então é sempre necessário se fazer compreendido pelo outro. No caso acima, se o parceiro responder que não, por exemplo, a mulher pode perguntar então: mas o que especificamente você não entendeu ou não fez sentido para você? E depois dar espaço para que ele possa se expressar. E assim vai, com perguntas e respostas respeitosas até que um entre em contato com o mundo do outro e a compreensão aconteça.
Para finalizarmos, reflita sobre quais são os seus estilos de comunicação mais usuais e observe em quais situações e contextos você poderia flexibilizar esses estilos de comunicação e desenvolver uma comunicação mais assertiva? Como você poderia dizer tudo aquilo que você diz de maneira agressiva de forma mais assertiva para que a pessoa que você está comunicando se conecte mais com você? Como você poderia iniciar um diálogo difícil e trabalhar a comunicação praticando a escuta ativa e desenvolvendo a habilidade de encontrar a intenção positiva por trás de cada comportamento? Assim como refletir onde cairia bem para você se expressar mais e não ficar com tanto medo de conflito? Como seria para você ser mais assertivo sem medo de desagradar o outro? E lembrando sempre que toda mudança requer muita prática mental e mudança comportamental para que aos poucas novas habilidades de comunicação possam ser implementadas.
Na mosca! Tu escreveu pra mim? Hehehe…(eu imagino que
outras (os) pacientes teus devem pensar a mesma coisa hehehe!!!) Eu, que estou casada há 35 anos, penso que meu marido já sabe o que eu quero ou preciso. Não é necessário falar ou pedir!! Grande engano!! Precisamos falar simmm!! Obrigada por mais uma lição preciosa! 💙