As relações interpessoais são a base do nosso desenvolvimento psicobiológico como seres humanos. A base de nossa psique é constituída por nossas relações primordiais, ou seja, o vínculo estabelecido com as pessoas de quem dependemos em nossos primeiros anos (Lorenz, 1986). Também devemos levar em conta que na maior parte da história da humanidade, pertencer a um grupo social foi um símbolo de proteção. Provavelmente somos a espécie mais social do planeta, o que equivale a dizer que somos a espécie mais dependente de outros membros. Isso implica que nossa estabilidade emocional e nossa saúde estão diretamente relacionadas aos vínculos que temos com nosso meio ambiente.
Além de ser parte da nossa sobrevivência termos vínculos saudáveis e significativos, anos de estudo demonstram que ter relações interpessoais satisfatórias e ter vínculos sociais de qualidade é o maior valor para garantir uma vida longa e saudável (Waldinger, 2015). Ademais, relações interpessoais mostram de forma cristalina quem somos, quais são os nossos medos e quais as nossas capacidades. Se aprendi alguma coisa ao longo dos anos estudando a psique humana, é a necessidade de qualquer pessoa ser amada, cuidada e reconhecida por outro ser humano.
Os parceiros que encontramos, os colegas de trabalho, os amigos que aparecem e assim por diante. Todos os nossos relacionamentos nos darão a oportunidade de reconstruir nossa identidade e recuperar partes de nós mesmos que deixamos para trás ao nos adaptarmos a um sistema familiar e social. Em cada encontro, em qualquer uma de suas formas —amor, desgosto, ilusão, traição, incompreensão—, estaremos diante de partes de nós mesmos que não se integraram totalmente com o devido equilíbrio e, portanto, novas oportunidades para modificar a percepção que temos de nós mesmos e do nosso mundo.
Até aqui já compreendemos um pouco o papel dos vínculos em nossas vidas, não é mesmo? Não fomos feitos para estarmos sozinhos, apesar de que momentos de solitude regeneradora são fundamentais para todos nós também. Através das relações compreendemos que não estamos sozinhos e temos pessoas para contar, para relembrar quem somos, para ouvirmos coisas quando precisamos, para nos incentivarmos quando também precisamos, e para, principalmente compreendemos quem somos, pois a melhor forma de nos compreendermos é através do outro.
Apesar de tudo isso, precisamos compreender: com quem desejo me relacionar? Como estão as minhas relações? E para auxiliar a compreender um pouco mais deste assunto, segue uma lista de elementos sobre os elementos que compõem uma relação de qualidade:
Comunicação assertiva: poder expressar livremente tanto aspectos positivos como negativos.
Espaço emocional: poder transitar por diferentes estados emocionais sem ser julgado.
Ser autêntico: poder expressar ideias, experiências e opiniões sem ser julgado.
Não depender das opiniões dos demais: não colocar nos outros o valor do nosso próprio ser.
Equilíbrio entre as conversas: escutar de forma ativa e sentir-se escutado
Não dê conselhos que não foram solicitados: ajude quando a pessoa que você estiver se relacionando, pedir ajuda. Respeite o processo de cada um.
Aceitar aos outros como eles são: somos livres para escolhermos com quem desejamos nos relacionar, então não tente mudar o outro.
Não foque em demasia no outro: Tenha a sua própria vida e saiba cultivar sua individualidade. Não pese as suas relações fazendo a vida do outro a sua prioridade. A sua prioridade sempre deve ser você. Precisamos estar bem para cuidarmos de nossas relações.
Não tenha medo de ter conflitos: Conflitos fazem parte de qualquer relação. Precisamos ressignificar que ter conflitos não significa eminência de separação. Além disso, precisamos ressignificar a palavra “briga”. Nem todo conflito é uma briga, é apenas algo que necessita ser resolvido com muita comunicação entre as pessoas envolvidas.
Esteja aberto a mudanças: A mudança é inevitável na vida e acontecerá, quer você aceite ou lute contra ela. A flexibilidade é essencial para se adaptar às mudanças que estão sempre ocorrendo em qualquer relacionamento e permite que vocês cresçam juntos nos bons e nos maus momentos.
Saiba quais são os seus limites e o que você não pode abrir mão: Sabemos que tem momentos que vamos ceder em alguns aspectos pois aquilo é importante para a outra pessoa do relacionamento. Contudo, saiba quando ceder gera um desrespeito a você e tenha clareza do que na sua vida você não pode abrir mão pois está vinculado com valores muito estruturantes.
E lembre: todo relacionamento tem altos e baixos e poder navegar nessas polaridades faz parte de estar vivo, de ser humano e de ser inteiro.
Referências:
Corbera, E. (2020). Recordar quién soy. Ciclo de Conferencias de Enric Corbera. Barcelona: El grano de mostaza.
Lorenz, K. (1986). Fundamentos de la etología. Estudio comparado de las conductas. Barcelona: Paidós.
Waldinger, R. (2015). ¿Qué resulta ser una buena vida? Lecciones del estudio más largo sobre la felicidad [Archivo de vídeo]. Recuperado de: https://bit.ly/1noD39E
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