Parte I
‘‘Todo homem carrega dentro de si a imagem eterna da mulher, não desta ou daquela mulher em particular, mas sim de uma imagem feminina bem definida. O mesmo pode ser dito da mulher: ela também tem sua imagem inata do homem” (Jung, 1925, p.338).
Raymond Douillet - Angela King Galerry
bienvenidos mis queridos, é um prazer ter você aqui comigo nesse momento. Hoje te convido, antes de mais nada, a observar se este é o momento ideal para você ler este artigo, visto que está mais extenso que o habitual. Dessa forma, te convido a ler este em um momento de calma para que você possa de fato receber essas informações pois te garanto que de uma forma ou de outra, esse texto irá ressoar com você. Bom, e se você decidir mesmo estar aqui agora, te convido também a pegar uma xícara de chá ou quem sabe, dependendo da hora que você abriu o seu email, pegar uma taça de vinho e se aconchegar aqui comigo. Boa leitura, meus queridos.
Há muito tempo, e especialmente as correntes filosóficas orientais, estudaram a complementaridade dos opostos. Por exemplo, na China antiga, entre 770 e 221 a.C., o conhecido princípio “Yin-Yang” surgiu como um princípio filosófico e religioso que explica a existência de duas forças opostas mas complementares que são essenciais no universo: yin, associado ao feminino, escuridão, passividade, contração, o que é interior e a terra; e o yang, Ligado ao masculino, à luz, ao ativo, à expansão, ao que está fora e ao céu.
Ambas as energias são necessárias para manter o equilíbrio universal. A energia feminina e masculina sempre convergem em nós, e quando estão integradas e em harmonia nos dão a capacidade de enfrentar qualquer situação em nossas vidas. O aprendizado e julgamento das polaridades masculina e feminina ocorrem na infância dentro da família, por meio das figuras como nosso pai e nossa mãe ou, na falta disso, por meio das pessoas que representavam o pai e a mãe para nós.
Esse conhecimento das polaridades não é de hoje, como mencionado anteriormente, existem registros milenares sobre este tema, e em diversas áreas de conhecimento podemos ver isto se manifestar. Por exemplo, não teríamos a energia elétrica se não tivéssemos dois polos opostos, visto que é através do movimento dos prótons e dos elétrons que a corrente elétrica surge. Da mesma maneira, o campo eletromagnético da terra só se forma devido aos dois polos opostos que existem no planeta Terra, nomeadamente o polo Sul e o polo Norte, e todos os os animais e seres vivos são influenciados por este campo eletromagnético através de uma bússola interna que possuem. Resumindo, se apenas observássemos mais a vida em geral, iremos notar que a maioria das coisas funciona através do conceito da complementaridade: dia e noite, esquerda e direita, luz e escuridão, sol e lua, feminino e masculino, mãe e pai.
Dessa forma, a transcendência que buscamos, principalmente através da perspectiva psicológica que discorreremos aqui hoje, ocorre através da integração e do equilíbrio dos opostos, visto que é o excesso de polarização que produz o conflito. Não conseguiremos chegar ao nosso centro e dançarmos com liberdade sem tanto posicionamento de como as coisas devem ser, se não começarmos a fazer as pazes com os opostos que há dentro de nós.
Um breve exemplo, muitas pessoas podem se posicionar frente a energia da agressividade como algo ruim, e ela pode realmente ser se for descontextualizada, contudo uma boa pitada de agressividade em algumas situações é necessário, como em uma situação em que alguém invade um limite nosso e nos desrespeita, quando precisamos encerrar um trabalho ou uma relação que não esta nos fazendo bem. A informação da agressividade envolve basicamente ir para a ação, é força, é limites. Assim como, se ficarmos polarizados nessa energia, como acontece com algumas pessoas que são muito reativas, faltará boas doses também de uma energia mais passiva, que é saber observar quando não vale a pena se estressar por algo, quando está tudo bem ceder e quando precisamos compreender. Ou seja, agressividade e passividade são dois polos da mesma moeda e ambas informações são fundamentais e estruturantes dependendo de situações vividas.
Fiz esta introdução até aqui sobre o conhecimento e a importância das polaridades antes de entrarmos no tema propriamente dito, pois assim como todas as polaridades descritas acima, precisamos integrar a energia mãe e a energia pai de maneira satisfatória nas nossas vida para que tenhamos uma boa relação consigo mesmo, com as pessoas nas quais convivemos, com os nossos trabalhos, com o nosso tempo, com o nosso dinheiro, com a nossa auto-estima, entre outros aspectos que dependem muito do arquétipo mãe, quanto do arquétipo pai que recebemos. E por que tomar conhecimento disso é tão importante?
“La vida debe ser vivida mirando hacia adelante, pero solo puede ser entendida mirando hacia atrás” Kierkegaard (1813-1855).
Raymond Douillet - Angela King Galerry
Pelo simples fato de que tudo começou para cada um de nós, sem exceção, através daqueles que vieram antes de nós. Como cita o brilhante pai do existencialismo, só conseguiremos seguir adiante com a nossa vida, se compreendermos o nosso passado. O objetivo deste artigo não é para ser apenas teórico, assim como mais uma fonte de tantas informações que temos e que depois nada fazemos com elas, mas para que possamos refletir sobre o nosso passado, sobre a nossa constituição e observar o que ainda nos influencia disto tudo e o que nos impede de viver uma vida mais satisfatória e livre.
De maneira ideal, um indivíduo para se desenvolver bem precisaria de uma energia mãe e uma energia pai forte. Aliás, antes de prosseguir: por que utilizo essa linguagem de energia ou arquétipos? Pois não estou falando do fato de precisarmos necessariamente de uma mãe e de um pai e sim das funções que cada um desempenha. Existem muitas configurações de família, muitas realidades diferentes, assim como crianças que nascem e crescem sem pai, ou sem mãe, mas alguma outra figura pode assumir essa energia e essa força correspondente na vida de um indivíduo. Assim como, em casais homossexuais também há presença desses arquétipos para poder criar e educar uma criança de maneira satisfatória. Além disso, mesmo em famílias onde há a presença de uma mãe e de um pai de fato, muitas vezes a energia mãe está no pai e a energia pai está na mãe, assim como pode existir casais muito equilibrados que conseguem dançar através desses arquetípicos, e alternar a presença da energia mãe e a energia pai com os seus filhos dependendo da situação, e isto seria o ideal.
As informações presentes no arquétipo mãe são: cuidado com as feridas dos outros, compreensão, atenção, apoio e conforto. Está em contato com as leis da natureza, as emoções e o inconsciente. É fonte de abundância, de vida e regeneração. Se deriva através da energia feminina que é nutrição, sustento, calor e suavidade. É quem permite, é receptivo, une, conecta e gesta. Traz a capacidade de intuição e consegue observar a beleza do processo ao invés de focar no resultado.
Já o arquétipo paterno está vinculado com a energia que vai para fora, tem a ver com o que fazemos e materializamos na vida. Traz impulso, ordem e direção para iniciar um projeto. Protege, dá vida a planos e sonhos, é um poderoso e forte exemplo a ser seguido. É quem orienta e define limites. Representa autonomia, integridade moral e autoconfiança. Se deriva da energia masculina que é ação, realização de coisas, construção de projetos e individualidade. Está relacionado com a autoridade, as leis, instituições, ordem e justiça.
Um desenvolvimento ideal então seria que tivéssemos recibos tanto recebido amor, acolhimento, compreensão, permissão para errar e para permitir que sejamos falhos, imperfeitos e mesmo assim sermos merecedores de ser amados, assim como termos recebidos em momentos adequados, a saída da energia materna, para que a energia paterna pudesse entrar e trazer ordem, limite, segurança e direcionamento.
Agora estando um pouco mais claro, assim eu espero, do que se trata esses arquétipos, vamos ir um poquito más adelante (como este artigo vem de uma expressão criativa e pessoal, te peço licença para trazer algumas expressões em espanhol, pelo simples fato que sim e eu amo). Abordei anteriormente o que seria um desenvolvimento ideal, porém não é normalmente assim que acontece. Contudo, a mágica desta história é: estamos aqui para compreender o que nos faltou ou o que tivemos em excesso para que possamos reescrever nossa história de uma outra maneira agora e trazer nós mesmos a energia que nos falta para a nossa vida.
Vocês conseguem imaginar o que acontece com um ser humano quando nasce em um ambiente amoroso demais sem compreender a importância dos limites, da disciplina e da ordem? Esse ser humano nunca irá crescer e virar um adulto maduro e responsável pela sua vida. Assim como, o que acontece com um indivíduo que nasce castrado da energia materna, tendo um arquétipo materno frio e que não atende suas necessidade de acolhimento, amorosidade e compreensão? Pode ter a tendência a se tornar rígido demais, com tendência ao perfeccionismo e com dificuldade de conexão com as pessoas.
De fato, vou falar agora por experiência própria de anos de prática clínica e também pelos aprofundamentos na área da bioneuroemocion, que estuda, aborda e trabalha muito com as perspectivas descritas aqui. Felizmente ou infelizmente o mundo não é ideal, e digo isso pois consigo observar que mesmo em contextos disfuncionais onde as coisas não são como talvez deveriam ser, existe um mistério que rege esse todo e que tudo acontece como precisa acontecer, por justamente conseguir compreender que são justamente através das nossas faltas, marcas e das nossas disfuncionalidades que há ali a semente de transformação necessária para cada indivíduo. Por detrás de cada ferida e marca, há um dom a ser descoberto. Mas vamos lá (sim eu preciso trazer energia pai aqui para ser mais objetiva, pois tenho uma tendência de me estender e falar demais).
Quando dois indivíduos decidem ter um filho, ou às vezes nem decidem, em casos quando isso acontece sem muito aviso prévio, esses dois seres humanos antes de se tornarem pais, são filhos, e carregam a marca dentro de si de como foram os seus pais e, desta forma, a forma como vão interagir com o arquétipo mãe e o arquétipo pai não será neutra e já está influenciada pelas vivências passadas. Sim, estamos todos ligados através de um fio invisível condutor que nos liga a esse infinito que veio antes de nós, que é a nossa ancestralidade.
Eu poderia colocar um caso clínico agora, que eu teria muitos para exemplificar, porém hoje vou começar com a minha própria história, pois não sei se você percebeu lá no título deste texto, esse assunto é tão complexo que chegará na sua caixa de email em algumas partes.
A minha história como forma de exemplificar tudo o que discorremos até aqui
Raymond Douillet - Angela King Galerry
Nasci de uma mãe, que não teve o seu pai, já que este morreu quando ela tinha 7 anos, atropelado, pois estava embriagado e era alcoólatra. Já a sua mãe, minha avó materna, teve que criar três filhos sozinhas e dessa forma, tampouco esteve presente na vida da minha mãe de maneira satisfatória, mas abençoada, fez o que pode. Meu pai, teve um pai ausente, que também tinha problemas com álcool e casos extraconjugais, e uma mãe superprotetora. Meu pai, por ser o primeiro filho, foi “raptado emocionalmente” (esta é uma expressão para exemplificar as mães que projetam em seus filhos a falta do marido) pela minha avó paterna. Meu pai, assim como a minha mãe, cresceram com ausência paterna. Como diz Enric Corbera, fundador da Bioneuroemocion, “Deus os cria e Deus os junta”, ou seja, a união de casais está muito vinculado com as ressonâncias familiares que carregamos no nosso inconsciente. Diferente do meu pai, que teve uma presença em excesso materna, minha mãe, além da falta da figura do pai, também teve carência de afeto, carinho, compreensão e amor. Na verdade, a minha avó materna acabou assumindo uma energia extremamente paterna com os filhos, e mandou cada um para o mundo, literalmente.
Minha mãe se tornou uma grande mulher e fez das suas feridas sempre como um impulso para crescer e se desenvolver. Ela nem tem muita consciência disso, mas eu como psicóloga observando a sua trajetória, observo o quanto ela usou as suas feridas para lhe impulsionar. Minha mãe acabou desenvolvendo muito mais a energia masculina dentro de si e acabou ressoando com um homem que tem mais energia feminina, meu pai. Por outro lado, meu pai, por ter a ferida do abandono do seu pai, quando se tornou pai, acabou inconscientemente querendo reparar sua história dando o máximo que podia para os seus filhos e família. Meus pais eram muito humildes mesmo e construíram juntos tudo do zero.
Dessa forma, na minha infância, tinha uma sensação de ausência de pai, e eu sei que o meu irmão sentia o mesmo, pois meu pai estava sempre viajando a trabalho ou mesmo quando não estava viajando, praticamente não o via por estar sempre trabalhando. A sua intenção era a melhor, dar a segurança que ele nunca teve, contudo a marca que isto trouxe para mim, foi a mesma que a dele: ausência de pai. Por outro lado, tive excesso de energia materna, justamente o que minha mãe não teve. Minha mãe, de forma inconsciente, também quis dar aos filhos tudo o que ela não teve. Por mais que minha mãe acabou desenvolvendo uma energia muito masculina frente a vida, com os seus filhos, ela sempre foi amorosa demais.
Por meu pai estar pouco presente, acabei criando um medo da figura masculina e da autoridade, e minha mãe sempre esteve entre os filhos e o meu pai. A voz do homem era difícil de entrar, existia uma grande mama sempre na frente. A dinâmica mudou muito em algum momento quando, meu pai, talvez por culpas internas percebeu que talvez estava muito ausente com os filhos, e se tornou o pai mais carinhoso e querido do mundo. Sabem a figura de um urso amoroso e querido? Esse é o meu pai. Não lembro exatamente quando as coisas mudaram, faz bastante tempo, mas o fato é que ele é uma das pessoas mais amorosas que eu conheço atualmente. Mas onde isso me afeta? Acabei tendo pouca energia masculina na minha criação. Sou uma pessoa com excesso de energia maternal, e não é por acaso, que me tornei psicóloga e tenho uma facilidade natural e intrínseca de acolher, cuidar, compreender e amar. Lembra que eu falei anteriormente que por detrás da ferida que temos existe um dom? Porem, por rejeitar a energia paterna vindo de fora, eu sempre tive dificuldade de receber ordens, gostava sempre de fazer as coisas do meu jeito e sempre atrai relacionamentos no qual eu era a pessoa que controlava, justamente por não permitir que a voz do homem entrasse em minha vida.
Além disso, por outro lado, pelo excesso do materno, muitas vezes eu tinha tendência de me sacrificar pelos outros sem querer, dificuldade de colocar alguns limites e já projetei incontáveis situações de pessoas querendo tirar vantagem e de pessoas que me devem dinheiro. Assim como, sempre tive muita dificuldade de não responder algumas pessoas, de estar sempre disponível e simpática em excesso. Abençoo meus pais e minha historia e sei que eles me deram o que eles puderam e tenho plena consciência que recebi as feridas que eu precisava, pois não são os pais que precisam mudar, somos nós enquanto filhos, que precisamos começar a mudar a nossa história, e assim poderemos parar de repetir alguns padrões e fazermos diferentes com os nossos filhos.
Se não fosse também por essas informações que eu recebi, não seria a pessoa que eu sou atualmente. Justamente por ter recebido compreensão e amor em excesso, tinha uma sensação que poderia sempre conquistar o que eu desejava, acabei me tornando destemida e indo muito para a vida, contudo me faltava responsabilidade e disciplina. Atualmente, trago mais a energia masculina para mim sempre que preciso, permito ser cuidada, escutar e direcionada pelo meu parceiro. Estou aprendendo cada vez mais que simpatia e acolhimento em excesso, principalmente no meu trabalho, não é adequado sempre, depende da situação e não dar isso é um ato de amor. E o mais bonito é que eu sei que os meus sonhos e objetivos, estão justamente vinculados com esta energia que eu integro cada vez mais em minha vida. Sem disciplina e responsabilidade não conseguirei alcançar meus sonhos, que são altos.
Assim como, meu irmão por outro lado, também teve as suas curas por também ter recebido essa informação. Meu irmão ao longo da vida, teve sérios problemas com vícios, normalmente homens com problemas de álcool e drogas, podem estar relacionados com excesso de energia mãe. Assim como teve dificuldade ao longo da vida de compreender o que ele desejava fazer a nível profissional, justamente por esse rompimento com a energia paterna. Hoje em dia, ele já conseguiu transcender muitas coisas, tem uma família e um filho que inclusive trouxe muitos aprendizados e foi quando ele começou a curar a relação com o nosso pai. Está livre dos vícios e vive uma vida, do jeito dele, conectada com o que importa para ele.
Recordam que eu falei anteriormente que nada poderia ser diferente? Essa frase só é válida, quando de fato compreendemos o que nos faltou, o que recebemos em excesso, o que então de fato precisamos transformar e o quanto justamente isso está vinculado com coisas que precisamos alcançar ao longo da vida ou de uma maneira mais romantizada com aquilo que viemos aqui para fazer. Não é por acaso que a vida também me direcionou a estudar questões do inconsciente e me conectar com professores que são a maioria atualmente homens com muita energia paterna.
Na próxima semana nos vemos com a continuação desse artigo e aprofundaremos nos arquétipos da mama devoradora, da mama fria e da mama superprotetora, assim como irei abordar a cura com a energia paterna que todos nós enquanto sociedade precisamos fazer em algum nível.
Até lá te convido a refletir sobre a sua história e o sobre o que ressoou para você, vou adorar também saber feedbacks seus.
Hasta luego queridos,
Me voy a tomar el derecho de comentar en español porque me encanta jejeje. Ame conocer un poco más de tu historia y quiero aprovechar este momento para decirte que sos una bendición en mi vida. Te agradezco por todo, de corazón.